Era só mais um neguinho da favela.
Só mais alguém que era destinado a ter um futuro trágico. Mãe ignorante e pai alcóolatra.
Só mais uma criança triste, dessas que todo mundo diz que sente pena, mas não faz nada pra evitar. Em meio a surras, torturas e travessuras, por que ele era uma criança um pouco levada, nenhuma utopia.
Esquecia de tudo quando jogava futebol, bola de gude, brincava de pique-esconde. As brincadeiras eram uma distração de toda aquela frustração. E ele foi crescendo.
Aos 13 anos experimentou o seu primeiro beck, puxou, prendeu, passou, soltou. E a tristeza desaparecia.
Alguns meses depois, ele conheceu uma garota.E não precisou mais se drogar, o amor fazia a função de sedativo pra todas aquelas dores. Pele morena, olhos castanhos, e ele se apaixonou. Só mais um desses amores de adolescente, que apenas nós, os próprios adolescentes, levamos à sério.
Um dia, na escola, o primeiro beijo aconteceu. E a paixão aumentava. Algum tempo depois, começaram, a namorar. E foram tempos felizes.
Ele cresceu, já era quase um homem. Com 15 anos, ele já tinha planos para o futuro, queria se casar, arranjar um emprego, e se mudar dali, levar sua amada para longe daquela violência. E então, o sempre impiedoso destino o reservava mais um teste.
Seu amor se mudou dali, mas não com ele, a família perdeu a casa e ela foi morar com alguns parentes.E ele percebeu que sua vida não valia mais à pena. Foi até o maluco da esquina. Comprou o bagulho. Fumou, esqueceu. Mas não era o suficiente, decidiu experimentar algo mais forte. Roubou alguns trocados de sua mãe e comprou uma pedrinha. E sentiu a melhor e a pior sensação juntas. Viciado, roubou sua família e vizinhos para comprar crack. Depois de algumas semanas, estava magro, raquítico, irreconhecível.
Sobreviveu mais um ano. No mesmo dia de sua morte, reencontrou seu amor. Apenas a viu passar na rua. Chorou. Mas não quis ir atrás e abordá-la para conversar. Então, correu até sua casa, pegou uma faca e se matou. Sem ao menos saber porque. De certo, porque era um fodido na vida. Ele tentou ser forte, mas nem sempre dá. Mas ao menos temos que tentar. E aqui acaba mais uma história comum. Corriqueira. Da qual quase todos já se acostumaram.
E o povo continua indiferente à essas situações. Que mundo idiota.

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